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Por que Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no meio do Jardim?

Esta pergunta não deve ser feita somente por ateus, céticos, magos, espiritualistas, e outras correntes de pensadores seculares, mas deve ser feita principalmente por cristãos. Não me refiro aos ‘cristãos’ com fulcro na religiosidade, na moralidade, ou na formalidade, mas àqueles que efetivamente creem na doutrina de Cristo.

A pergunta pode ser formulada sem receio de qualquer castigo, ou que se esteja cometendo um sacrilégio ou uma blasfêmia. Almeje saber por que Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no meio do jardim sem qualquer barreira que impedisse o homem de acessá-la.

Porém, é de bom alvitre observar que, o ato de formular uma pergunta, e dependendo de quem faz a pergunta, pode abrigar no seu bojo as mais variadas intenções.

Para compreender esta peculiaridade própria as perguntas, voltemos ao evento no Éden:

A ‘serpente’ fez uma pergunta à mulher: “É assim que Deus disse: não comerás de toda árvore do jardim?” ( Gn 3:1 ). A ‘serpente’ desejava saber, ou questionar a ordenança divina? Qual perspectiva motivava o inquiridor?

Observe o que a astuta ‘serpente’ conseguiu com a pergunta formulada à mulher:

  • Chamou a atenção de Eva para o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal;
  • Enfatizou a ideia de uma proibição exacerbada, descabida e que nunca existiu;
  • Fez a mulher sentir-se segura de si por demonstrar à ‘serpente’ conhecimento superior;
  • Conseqüentemente, fez a mulher deixar de se refugiar na palavra de Deus, e;
  • Conseguiu a oportunidade de expor a mentira que produziu o engano.

A pergunta: ‘Por que Deus colocou a árvore no meio do jardim?’ é pertinente e deve ser formulada quando se tem o desejo de saber, porém, dependendo do contexto, ou do momento que ela é feita, pode ser utilizada para infamar. Observe:

“Se Ele não queria que isso acontecesse, por que colocou a tal árvore no meio do jardim – e não fora dos muros do Paraíso?*” Veronika decide morrer, Paulo Coelho, São Paulo, Editora Planeta do Brasil, 2006, Pág. 108.

Ao se deparar com perguntas semelhantes a esta é de bom alvitre verificar qual a motivação por trás dela:

a) desejo de saber, ou;

b) anseio de criticar, infamar, etc.?

Outro ponto a se considerar refere-se ao estado emocional de quem faz a pergunta.

A pergunta em tela deve ser feita, porém, não se deve renegá-la somente a momentos de desequilíbrio emocional. Por que questionar os motivos da divindade somente quando não se está bem financeiramente, quando se perde um parente, quando se sai de um relacionamento frustrante, quando em depressão, quando em fatalidades, catástrofes, etc.?

Se quem pergunta deseja chegar à verdade não pode estar comprometida emocionalmente.

É de conhecimento que, um dos problemas da ciência moderna reside na ferramenta, ou seja, no instrumento de análise de certos eventos científicos. Como analisar um átomo sem que o instrumento de análise interfira na dinâmica do átomo? Se analisado por um microscópio, a própria luz que se lança sobre o átomo não interferirá no que se está observando, interferindo na mensuração e no diagnóstico? Ao introduzir certos corantes nas células para observá-la, não se interferiu na dinâmica dos seus compostos?

Que se dirá de uma análise que depende única e exclusivamente de relações lógicas, se a pessoa que busca uma resposta está comprometida emocionalmente? Se as perguntas, a base para qualquer busca de conhecimento, já surgirem eivadas de elementos tendenciosos?

Segue-se que, se uma pessoa estiver comprometida emocionalmente, ouvirá somente o que quer ouvir, e verá somente o que deseja ver. Deste modo, temos por verdadeiro o enunciado do provérbio popular: “O pior cego é aquele que não quer ver!”.

Desde que o diabo fez a pergunta à mulher: “É assim que Deus disse: Não comerás de toda a árvore do jardim?” ( Gn 3:1 ), enfatizando uma proibição que efetivamente não existiu, muitos pensadores só ouvem e veem na ordenança que Deus deu ao homem uma proibição. Até mesmo acusam Deus de induzir o homem à desobediência, ou que Deus inventou o castigo.

Mas, o que Deus disse ao homem? Será que os ateus já leram o que Deus disse? Será que os críticos abriram e leram efetivamente o livro que contém os registros do que Deus disse?

Observe o que Deus disse: “De toda a árvore do jardim comerás livremente...” ( Gn 2:16 ). O que Deus enfatizou? Deus enfatizou que o homem era livre, e que poderia agir segundo a sua vontade. Adão podia comer livremente de todas as árvores do jardim, porém, a ‘serpente’ enfatizou à mulher somente uma proibição.

É de se estranhar que em nenhuma acusação contra Deus citem as suas palavras conforme consta no Gênesis, principalmente: “De toda a árvore do jardim comerás livremente...” ( Gn 2:16 ). Geralmente rotulam o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal somente de ‘fruto proibido’. Ora, o fruto nunca foi ‘proibido’, pois de todas as árvores o homem poderia comer ‘livremente’. 

A indução da ‘serpente’ ofusca a verdade para aqueles que se agradam em manifestar aquilo que lhes agrada seus corações. Erram ao amalgamar a pergunta tendenciosa da ‘serpente’ a ordenança divina, e interpretam-na apenas como proibição. Bem disse o pregador: "O tolo não tem prazer na sabedoria, mas só em que se manifeste aquilo que agrada o seu coração" ( Pv 18:2 ).

O que se manifesta na ordenança divina? Deus concedendo a Adão o exercício do livre arbítrio!

Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no meio do jardim, sem qualquer barreira que impedisse o homem de comer do seu fruto para conceder-lhe liberdade.

Se a árvore do conhecimento do bem e do mal não fosse colocada entre as demais árvores do Éden, Adão seria efetivamente livre? Existe liberdade quando não há limites? Como delinear a liberdade sem um referencial estabelecido?

Não há limites para Deus? É assente que Deus é livre, mas Ele não pode mentir. Deus não pode voltar atrás com a sua palavra. Ele não pode prometer e deixar de cumprir! Embora Deus seja Deus, submete-se à sua palavra! No entanto, Ele é a máxima expressão da liberdade!

A liberdade não está em fazer o que é vetado, antes reside na capacidade de rejeitar ou não o proibido.

Sem a árvore e sem o alerta divino não haveria o exercício da liberdade, e o homem estaria ligado a Deus mesmo contra sua vontade. A regra (livremente) e a exceção (mas) andam juntas para ser factível o exercício da liberdade ( Gn 2:16 -17). Todas as árvores do jardim poderiam ser degustadas livremente, mas, o homem deveria considerar que, caso comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal, arcaria com as conseqüências (separação de Deus).

Embora criado livre, não haveria razão de ser tal liberdade se Adão não possuísse a possibilidade real de exercê-la. Que é a liberdade sem a possibilidade de ser escravizado? Escolher o proibido não é propriamente a liberdade, pois ela não reside no proibido, antes, na possibilidade de rejeitar algo factível: a servidão.

Do mesmo modo que a comunhão com Deus (vida) é antagônica a condição de alienação da glória de Deus (morte), estar com Deus é liberdade, e alienado d’Ele escravidão ao pecado.

Somente onde o Espírito de Deus está, ai há liberdade, portanto, somente em Deus o homem é livre e vive ( 2Co 3:17 ).

Adão não precisava experimentar o fruto para ser livre, pois ao experimentá-lo, passou a condição de preso, submetendo-se à sua própria decisão.

Em algum momento Adão foi pressionado a tomar uma decisão?

A liberdade é patente, clara, pois Adão não foi coagido a tomar qualquer decisão. Ele era livre, pois não havia qualquer tipo de opressão que o obrigasse a tomar uma decisão.

Adão não soube das conseqüências dos seus atos? Ele não possuía o conhecimento necessário para tomar uma decisão? Seria a ignorância uma bênção?

A luta pela informação, rechaçando qualquer regime político que viole o direito à informação é uma constante para a humanidade ao longo dos séculos. Porém, por que acusam Deus de indução à desobediência por ter concedido um direito tão caro a Adão quando informou das conseqüências dos seus atos?

O homem somente é livre quando sabe das conseqüências dos seus atos. O homem é livre quando lhe é permitido tomar decisões. O homem é livre quando possui o conhecimento necessário para tomar suas próprias decisões.

A ordenança divina de modo algum foi arbitrária, antes, superior a qualquer ordenamento jurídico que o homem já inventou. A ordenança divina é a expressão mais sublime do espírito das leis: visava preservar os bens mais importantes do homem - a vida e a liberdade.

Enquanto não comesse do fruto da árvore, Adão permaneceria vivo (unido a Deus), pois a conseqüência era clara: certamente morrerás (alienação de Deus). Enquanto se abstivesse do fruto do conhecimento do bem e do mal Adão permaneceria livre, mas após comer, tornar-se-ia prisioneiro de sua própria decisão.

Para Mari, personagem do romance ‘Veronika decide morrer’, do escritor Paulo Coelho, a expulsão do casal do jardim do Éden foi arbitrária e sem fundamento jurídico “... apenas por transgredir uma lei arbitrária, sem nenhum fundamento jurídico: não comer o fruto do bem e do mal” Idem.

É inconcebível que alguém, e utilizamos como exemplo as argumentações da personagem Mari, ligado a um sistema jurídico que é redigido de modo que as pessoas comuns não entendam o prescrito, sendo que este regime se sustem no princípio de que ninguém pode alegar ignorância da lei, questione que houve arbitrariedade na ordenança do Éden.

Haveria arbitrariedade se Deus legislasse em benefício próprio, porém, a ordenança concedida a Adão visava tão somente tutelar o que pertencia ao homem. Tornar alguém passível de punição, mesmo quando desconhece a lei, é legislar em beneficio da lei, e não do tutelado pela lei.

Não há qualquer elemento que de margem para se acusar Deus de arbitrariedade, mas os acusadores querem colocar a ordenança divina em suspensão, mesmo vivendo sob um sistema jurídico que navega por princípios inferiores ao da ordenança divina. Enquanto a ordenança divina visava preservar os dois bens mais preciosos que foi concedido ao homem, os ordenamentos jurídicos da atualidade se propõem mediar conflitos de interesses, sendo eminentemente punitivos. Por exemplo: matar alguém se resume a uma pena de reclusão.

A acusação de que Deus inventou o castigo através da ordenança dada a Adão é basear-se numa lógica simplista sem ao menos investigar os fatos descritos na bíblia “Mas Deus (...) Pelo contrário, escreveu a lei e achou um jeito de convencer alguém a transgredi-la, só para poder inventar o Castigo” idem.

“E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livrementemas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerásporque no dia em que dela comeres, certamente morrerás ( Gn 2:16 -17).

Qual a conseqüência da decisão do homem em comer do fruto do conhecimento do bem e do mal? Morte. A morte da qual Deus fez referência não era o termino das funções vitais do corpo, pois ao se referir à morte física do homem Ele utiliza a expressão ‘voltar ao pó’.

Se só havia Adão e Eva no Éden, eles morreriam para quem? A decisão de comer do fruto teria como conseqüência alienação, uma barreira entre Deus e os homens. Somente o termo ‘morte’ para descrever a ‘nova’ condição pertinente ao homem após a queda.

 

ESTUDO EXTRAIDO DO SITE ESTUDOS BIBLÍCOS (clique para ir para a página)